sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Renata Almeida: "É sobre propósito e impacto positivo. Queremos causar isso também em toda a cadeia produtiva"



Renata Almeida é uma empreendedora paraibana que, após deixar uma carreira de sucesso em uma multinacional, decidiu dar um novo rumo à sua vida. Ela se tornou uma defensora apaixonada dos produtos nordestinos.
Em 2020, durante a pandemia, Renata fundou a Kassuá, uma plataforma que conecta pequenos produtores e artesãos do Nordeste com o mercado online, que oferece aos consumidores, acesso a produtos autênticos e de qualidade. Renata tem sido uma força transformadora, não só nos negócios, mas também no fortalecimento da economia local e na preservação da cultura nordestina.

 

Na entrevista abaixo ela fala sobre sua jornada marcada por dedicação, paixão pela sua terra natal e um compromisso genuíno com o desenvolvimento das comunidades locais.

 

Você já fez parte de uma multinacional e mudou de carreira sendo hoje uma empreendedora. Qual foi o motivo que te fez decidir mudar?

 

Saí da empresa em 2015, mas não com o objetivo de empreender, pelo contrário, estava num bom momento, realizada como profissional e decidi dar uma pausa para ser mãe em tempo integral. Quando finalmente tive liberdade financeira, escolhi dedicar-me à maternidade. Não planejei empreender na época, foi um período de pausa que se prolongou com uma mudança para os Estados Unidos, onde aproveitei para estudar outra língua. A ideia era passar só um ano fora e terminei passando cinco. Cheguei a fazer um MBA, mas em 2020, retornei ao Brasil, naquele momento de caos, bem no auge da pandemia, por questões pessoais e de família.

 

Como surgiu a ideia de criar um negócio voltado para produtos nordestinos e artesanais?

 

A ideia surgiu no contexto da pandemia, quando vi o impacto que ela teve sobre pequenos produtores e artesãos locais. Voltei para Campina Grande e, com a ajuda da minha família, começamos a desenhar esse projeto, que seria, de início, uma plataforma online para ajudar esses produtores a venderem seus produtos. Estava com a mente muito do mercado americano e a visão muito aguçada da minha experiência lá fora, de que a venda online era efetiva.

 

A Kassuá facilita o acesso de pequenos produtores ao mercado online. Quais foram os principais desafios e aprendizados nessa jornada?

 

A ideia inicial era um marketplace gratuito para que as pessoas pudessem criar suas lojinhas online e comercializar seus produtos. Meu esposo, Wilker, tem um know-how incrível em projetos de tecnologia da informação (TI), de desenvolvimento de site, plataforma e desenvolveu o site com uma robusta estrutura que nos permitiu crescer. Também meu cunhado, Willihelm Araújo, que ficou responsável por toda a parte de design. Porém, percebemos que as pessoas não estavam familiarizadas com o ambiente online. O pequeno produtor, aquela mulher, mãe, esposa, dona de casa, que fazia o doce, era a mesma que tinha que tirar foto, cuidar da embalagem, atender o cliente, enviar o produto, fazer o pós-venda e não dava conta. Então surgiu a Kassuá da maneira como é hoje, comprando dos pequenos produtores e revendendo. Para agregar valor, dar mais visibilidade a esses produtos locais, comecei a juntá-los, harmonizar e fazer kits para presente. A coisa foi acontecendo muito rápido, funcionou.

 

A Kassuá trabalha com uma curadoria cuidadosa dos produtos. O que você busca ao selecionar os itens?

 

Selecionamos nossos fornecedores com base em alguns critérios essenciais. O primeiro é que o produto seja genuinamente nordestino, já o segundo é a sustentabilidade, considerando aspectos social, ambiental e econômico. Além disso, valorizamos a história por trás de cada produto, de como surgiu, quem participa do processo. É algo que gosto de escutar, porque no fim do dia é sobre propósito, e é isso que a gente quer causar, um impacto positivo na nossa comunidade, na sociedade e em toda a cadeia produtiva.

 

De onde são os fornecedores da Kassuá?

 

No primeiro ano foram produtos exclusivamente da Paraíba. A partir do segundo ano, começamos a abraçar os estados mais próximos, Pernambuco e Rio Grande do Norte, e hoje temos produtos dos nove estados do Nordeste, sempre enaltecendo a produção e a cultura. Sempre vi outras regiões sendo valorizadas, produtos que vêm do Sul, Sudeste, sempre enaltecidos e circulando nos nossos mercados, mas os nossos produtos que são tão bons quanto, alguns até premiados não estavam em lugar nenhum. O próprio paraibano não conhecia as riquezas da sua terra. Esse é um grande desafio, mostrar às pessoas a importância de se consumir e valorizar o produto local.

 

Quais os principais desafios para implementar esse modelo de comércio?

 

A Kassuá foi a forma que enxerguei de colaborar com a minha região e a minha cidade. Abracei a causa e ele tem muito da minha identidade. Somos pioneiros neste tipo de negócio: venda online de produtos e presentes exclusivos do Nordeste, e por isso o primeiro desafio foi quebrar a barreira da confiança do consumidor em realizar uma jornada de compra 100% online. No começo tivemos outras adversidades como mostrar às pessoas o quanto é importante consumir localmente, comprar do pequeno produtor, de quem faz na sua região, porque isso gera um ciclo virtuoso de geração de renda, de prosperidade, auto subsistência e de valorização. Além disso, foi necessário estabelecer uma relação de confiança com o pequeno produtor. Dependemos deles para poder atender os nossos clientes e para eles cumprirem prazos, requisitos, apresentação... tem que ter essa relação de confiança.

 

Além da comercialização, a Kassuá também contribui para o desenvolvimento de pequenas comunidades, como quilombolas e grupos de mulheres. Como você vê o impacto do seu trabalho nessas comunidades?

 

Ao valorizar as raízes, o que é seu, o que vem da sua terra, a sua cultura, isso fortalece a comunidade e o comércio local. Além do impacto econômico, impacta positivamente também as esferas ambientais e sociais. Comprando da nossa região reduzimos pegadas ambientais e fazemos o dinheiro circular dentro da nossa comunidade, gerando mais renda e oportunidades de desenvolvimento social. Se as pessoas vendem mais, passam a comprar mais insumos, contratar mais serviços e, com maior poder de compra, as famílias prosperam, vão consumir mais e gerar mais crescimento e progresso econômico e social no longo prazo.



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